Cobertura SPFW 59 | Quem é você no espetáculo da moda?
Aluf entrega moda em um storytelling afiado, que emociona e faz refletir sobre os malabarismos que as mulheres precisam fazer todos os dias.
Performamos na Sociedade do Espetáculo, vivemos na Sociedade do Cansaço. Quantos pratinhos uma mulher ainda precisa equilibrar para dar conta de tudo? Trabalho, família, expectativas, "ter que” falar, fazer, parecer, comprar.
Tudo isso sem desalinhar a roupa e o cabelo. Sem engordar ou emagrecer demais. Sem ter rugas e olheiras aparentes, e ter que dar um show diariamente: muitas vezes, equilibrada em um salto, esperando que o público (maioria homens) a reconheça de alguma forma.
Só de começar o texto, já me sinto cansada e uma parte de mim, infelizmente, vibra: não sou a única equilibrando tudo - realidade que a Aluf traduziu em sua última coleção, Malabares, apresentada neste domingo, 6 de abril, dando início a mais uma temporada do São Paulo Fashion Week.

Malabarismos na vida — e na moda
Se a moda der prazos apertados e um calendário insano, faça do limão uma limonada um belo desfile sobre os malabarismos de uma empreendedora para entregar várias coleções e espetáculos (no on e no off) ao longo do ano.
Ana Luisa Fernandes, fundadora e diretora criativa da Aluf, com muita sagacidade e criatividade, transformou um galpão no Bom Retiro, em um circo vintage e fashionista - brincando com nuances e contrastes, presentes na coleção.
No início do espetáculo duas mulheres, vestidas com macacões claros e fluidos, no estilo balonê, fazem malabarismos com muita leveza e graça. É possível ver que elas estão se divertindo, ao som do grupo Las Fanfarronas - que coloca todo o "respeitável público” no mood circense.
Assim que o desfile começa e a música toca, lembro de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain - onde a personagem também faz muitos malabarismos para as pessoas ao seu redor ficarem felizes.
O primeiro look, monocromático em um bordô desbotado, remete à tenda de um circo. Brinca com movimento e equilíbrio, trazendo um corset moderno e texturizado, que é forte, tem peso, e sustenta uma saia romântica em “A”, que lembra uma anágua. Aqui, ela não está escondida sob camadas — está exposta, em evidência, flertando com o sexy que revela e empodera.
Por falar nisso, essa dualidade está presente em toda a coleção da marca. Aluf traz o contraste do subir e o descer das clavas (bastões usados no malabarismo) em todas as suas peças.
Quando o colo está à mostra, as pernas estão cobertas.
Quando há muita informação na região inferior, há menos na superior.
A pureza no branco, no off-white, e o desejo no bordô.
A transparência e o laço, os babados e os shapes retos ou estruturados.
As listras e os poás em tons contrastantes.
Ana Luisa provoca o nosso imaginário da mesma forma que um mágico.
Há sempre um segredo, algo a mais a ser percebido - como as bolsas e os cintos com o ticket de entrada como elemento principal e os sapatos, em parceria com a Blue Bird, que têm salto, mas pequeno e confortável, para a mulher que precisa estar pronta para o dia e para a noite.
Highlights de Malabares
Do denim à organza, do poá à listra que evoca a lona do circo, a Aluf equilibra dualidades com precisão estética. Shapes amplos e mangas volumosas convivem com caudas, cinturas marcadas, maxi laços e estruturas que remetem a corsets antigos - agora leves, quase como uma memória.
Marinho, vinho, bege, preto e até um tom terroso, que destoa pontualmente, formam a cartela. O contraste entre o sexy e o funcional aparece nos recortes e sobreposições, nos vestidos que revelam e escondem, nas peças que flertam com o underwear sem abandonar o romantismo.
Há poesia no styling: anquinhas modernas, salto baixo e confortável, vestidos com bolsos e um olhar para o real. A mulher da Aluf precisa estar pronta para tudo, mas não precisa se equilibrar sozinha. Ela tem a moda como um apoio.
Respeitável público: no espetáculo da moda, a mulher da Aluf é multitask.
Em cima de uma corda bamba, equilibra rótulos, expectativas, o cansaço e a própria realidade, enquanto desfila pelo picadeiro em looks confortáveis e expressivos, que às vezes mostram, às vezes escondem, às vezes ressaltam sua praticidade, em outros, o seu lado romântico e sexy.
Looks que trazem a mobilidade que ela precisa para ser várias mulheres ao longo de 24 horas. Sinceramente, não sei como ela (e nós) damos conta.
- Aplausos.
* Para assistir ao desfile completo da Aluf, acesse o canal da SFPW no Youtube.
A cobertura completa da edição sairá ao longo da semana, aqui na newsletter.
FICHA TÉCNICA
Direção criativa: Ana Luisa Fernandes
Styling: Larissa Lucchese
Beleza: Mika Safro
Trilha: Las Fanfarronas
Malabaristas: Irmãs Cola
Cenário: Bora Cenografia
Fotos: agfotosite - site da SPFW
REFERÊNCIAS
Livro: Sociedade do Espetáculo - Guy Debord
Livro: Sociedade do Cansaço - Byung-Chul Han
Livro: A Estetização do Mundo: viver na era do capitalismo artista - Gilles Lipovetsky e Jean Serroy
Filme: O Fabuloso Destino de Amélie Poulain - Jean-Pierre Jeune
Jornalismo de Moda é uma newsletter semanal gratuita, produzida por Jhenifer Pollet, jornalista, especialista em Marketing Digital e pós-graduanda em Moda: cultura, comportamento e tendências.
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