#2 - Meu desejo é que em 2024 sejamos mais Malu Borges, Rihanna, Vivienne Westwood…
Artigo escrito no dia 28 de dezembro de 2023.
Chega o fim do ano e eu fico reflexiva - como boa parte das pessoas que conheço. É a hora de fazer o balanço, de refletir sobre o que vai, o que fica e o que ainda nem sabemos se deve ou não ficar, mas queremos mesmo assim.
Minha mãe e meu sogro me deram um dos presentes que eu mais amo ganhar de Natal, aniversário e qualquer outra comemoração possível: dinheiro.
Eu sei que para muitas pessoas isso pode soar um gesto de frieza, mas eu prefiro ter a chance de escolher algo que combine comigo e ser muito feliz com essa compra do que ganhar algo que não tem a ver com a minha personalidade e ficar com o sorriso meio amarelo, fingindo que gostei e sem coragem de trocar.
A busca pelo presente “perfeito”
Nem precisei olhar para meu guarda-roupa para saber que precisava de duas coisas: blusas ou camisetas e uma sandália rasteira para o verão. E são justamente as peças que eu odeio comprar.
Primeiro porque não suporto a modelagem feminina das blusas e camisetas. São raras as exceções. Segundo porque odeio a obrigatoriedade de usar um calçado aberto em dias quentes e de ser julgada por não ter feito as unhas.
Porque… Terceiro: EU ODEIO PASSAR DUAS HORAS NO SALÃO FAZENDO AS UNHAS - e não consigo fazer sozinha. Toda essa pressão me deixa profundamente irritada, ainda mais por ser calor. Sim, eu definitivamente sou a pessoa do fall-winter e amo meus pés cobertos por um sapato ou tênis maravilhosos.
Até que fui a um brechó, a uma loja moderninha de São Paulo e passei pelas lojas de departamento. Não encontrei nenhuma camiseta, nenhuma blusa que eu olhasse e pensasse: é você que eu vou levar pra casa.
Experimentei várias, mas a modelagem não caía bem. As camisetas do brechó eram “muito de agora”, não era uma vibe de brechó raiz, sabe? E também não ficaram boas.
Em todos os lugares percebi que um padrão se repetia: as peças que cabiam em meu corpo GG eram básicas demais e não traziam esse je ne sais quoi fashionista que eu estava buscando.
Black is my favorite and happy color… Mas por quê?
As madeiras do meu armário são pretas e a maioria das roupas que moram nele também. Eu gosto do preto e não troco um little black dress por nada no mundo. Mas percebi que até meus pretinhos básicos - que de básicos não tinham nada - estavam monótonos e chatos demais. Por quê?
Comecei a me questionar e entendi que o fato de ter engordado nos três últimos anos - por conta da pandemia, de um luto, de uma depressão, de um burnout e do transtorno de ansiedade (que estava se tornando uma compulsão alimentar) - eu parei de ousar. E é a primeira vez que consigo falar abertamente sobre isso.
O preto sempre esteve presente na minha vida, mas dessa vez ele não estava sendo um amigo. Estava me apagando e eu, que sempre acreditei que a moda deve ser usada como uma forma de empoderamento, estava caindo na armadilha e no senso comum erradíssimo de que “o preto emagrece”; “o preto é elegante”; “o preto disfarça a barriga”.
Meu guarda-roupa estava tomado pelo preto.
E muito porque eu não estava conseguindo me enxergar fora do meu corpo, fora do que as pessoas dizem ser moda.
2023 foi um dos piores anos da minha vida e eu passei por tantos processos evolutivos que, mais uma vez, meu corpo e a forma como eu me relaciono com ele, foi pauta - muitas vezes uma pauta sensacionalista, repleta de adjetivos ruins, fofocas, achismos e dedos na cara.
Até que em setembro consegui olhar para mim com os olhos que olham uma amiga e entendi que estava na hora de fazer as pazes com a minha própria casa.
Desde então, continuo vestindo preto - mas porque eu realmente quero - e agora estou buscando por peças que saiam do tal “quiet luxury” que virou tendência.
Tendência essa que, mais uma vez, é pensada para beneficiar uma camada específica da sociedade e fazer com que a outra parte busque parecer para pertencer.
Porque é melhor “ser chic”, usar uma moda enlatada, sem refletir sobre ela, e viver uma vida de aparência, do que questionar, do que pensar sobre o que você realmente gosta e quer usar. Porque o medo de parecer brega é grande e, uma vez brega, você é excluído.
A armadilha do falso elegante
Toda vez que eu leio a palavra “elegante” em algum conteúdo de moda nas redes sociais, nas revistas e nos portais, geralmente meus olhos reviram. Isso porque volta e meia o termo é aplicado da forma errada - e calma, eu explico.
No perfil do Instagram Moda Crônica (por favor, sigam o perfil - é incrível), a jornalista de moda Sara Brunelli explica de uma forma muito simples e direta como a elegância e o estilo elegante são diferentes. Em uma publicação postada no dia 19 de julho de 2023 ela fala o seguinte:
“Não dá para tratar o elegante como só mais um estilo de roupa. Consigo listar inúmeras situações onde o “elegante” não representava um estilo, mas um comportamento - desses que nos privam de sermos criativas demais, barulhentas demais, sensuais demais, confortáveis demais, qualquer expressão da gente mesma que não seja controlada”.
Ainda no mesmo conteúdo, Sara traz outra observação muito importante sobre o tal “elegante”:
“A elegância te poda ao mesmo tempo em que te enche de promessas que, no fim do dia, não podem ser cumpridas - porque não dependem da roupa. Ou seja: “o elegante é só um estilo” não rola mais porque estamos vendo, todo dia, que não é. É um manual de comportamento para silenciar mulheres. Além disso, se fosse só um estilo, seguir os códigos elegantes na sua roupa já te transformaria numa mulher elegante. Spoiler: não transforma, só se você tiver a cor, peso, tamanho e conta bancária”.
E isso tudo me fez refletir sobre os eventos que cobri ao longo deste ano, em que estava vestindo preto, me sentindo “elegante” e, mesmo assim, percebi olhares tortos. Bem tortos. Tortos mesmo!
O tal elegante não basta se você não tem um iPhone, se você não faz as unhas, se você tem um corpo fora do padrão, a cor de pele diferente do padrão, se você não viajou para fora do Brasil ou se os seus pais não tinham dinheiro para bancar uma faculdade renomada.
Por isso, depois da minha autoanálise, só tenho um desejo para mim e para você em 2024: que sejamos mais Malu Borges (sim, isso mesmo) e tenhamos a coragem de nos divertir com a moda, de usar as peças que queremos, de comprar uma bolsa no formato de pombo ou de sapo porque achamos divertido - sem medo do que os outros vão dizer.
Que sejamos mais Rihanna e tudo o que a gente vista vire moda - porque somos nós que estamos vestindo e porque tivemos coragem de quebrar as regras, de combinar cores e texturas aparentemente “estranhas” e sair por aí bem lindas e plenas. Grávidas ou não.
Que sejamos mais Vivienne Westwood e usemos da moda para lutar pelo que acreditamos. Que não tenhamos medo de ser “rebeldes”, de consumir menos e com mais qualidade, porque sabemos exatamente o que gostamos e o que queremos testar.
Desejo que o preto esteja no armário porque nós queremos.
Não por ser uma cor “elegante”, nem porque ele “emagrece” ou “disfarça”. Que em 2024 nós tenhamos coragem de vestir nossos próprios corpos de verão, independentemente do maiô, do biquíni e dos olhares maldosos.
Que nos sintamos livres para subir no metrô ou no ônibus às 7 horas da manhã com um batom vermelho e/ou uma saia de paetê (eu mesma).
Porque deixar de se divertir com a moda é muito fora de moda e não tem nada mais gostoso do que escolher a “skin” do dia seguinte:
Fashionista como Carrie Bradshaw?
All jeans no estilo Britney Spears?
Dona da minha própria marca, como a Beyoncé?
Ou apenas eu mesma, com todas as possibilidades que existem dentro e fora do meu guarda-roupa?
Desejo uma moda com menos regras, menos “elegância”, mais originalidade, mais autenticidade e que você se sinta livre e leve para se vestir para si - sem se preocupar com tendência, modismo e com o que os outros estão falando.
Utópico?
Bastante… Mas se a gente pula ondinha e faz simpatia no dia 31, acho que também posso trazer esses desejos para cá, né? Vai que se realizam!
Feliz Ano Novo.
That’s all. ♥